É fato ou fake: como saber a verdade em tempos de fake news
Por Mayara Santos
Com certeza você já deve ter ouvido falar na expressão fake news em algum momento nesses últimos anos. Em tradução literal para o português, o termo quer dizer nada mais do que “notícia falsa”, mas o que mais existe por trás disso? Para começarmos a entender o tamanho da problemática em que estamos inseridos, precisamos, inicialmente, entender de onde surgiu essa esfinge que a cada dia nos devora pouco a pouco. Preparados?
A expressão fake news pode ser encontrada desde o século XIX em dicionários de língua inglesa, porém o uso dessa tática se desenvolveu muito antes da sistematização do seu conceito em si. Um conhecido exemplo foi a Santa Inquisição, que na série de julgamentos das chamadas “Bruxas de Salém”, no século XVII, condenou homens e principalmente mulheres à morte na fogueira a partir de processos baseados em mentiras. A perseguição da Igreja Católica continuou em vários momentos da história e em vários lugares, como no Brasil, alimentando a máquina de tortura e mortes, através boatos e mentiras deliberadas.
Um caso muito emblemático, ocorrido no início do século XX nos Estados Unidos, dá mostras de como a máquina de propagação de mentiras pode ser extremamente cruel. George Stinney, um garoto negro de 14 anos, é até hoje a pessoa mais jovem a ser executada no país. Sobre ele, pesou a condenação de ter violentado e matado duas meninas brancas. Após apenas 1 hora de depoimento, seguido por 3 meses de prisão, a 80 km de distância de sua família, e sem qualquer auxilio jurídico, George foi executado na cadeira elétrica. É notório que as questões raciais pungentes no contexto norte-americano propagaram o aparelho de mentiras e ódio contra o jovem que hoje é considerado inocente por esse crime hediondo. As notícias falsas, boatos e a manipulação da opinião pública foram e são responsáveis por várias tragédias ao longo da história da humanidade.
A partir, do que foi explanado, deu para refletir sobre o tamanho do problema que estamos enfrentando? Você conseguiu perceber o quanto o alastramento descontrolado dessa tática pode ter impacto na sua vida e da nossa sociedade? Se você ainda não se sente convencido, vamos lá. Eu vou tentar explicar, como e onde nós estamos com isso.
Em 2020 o mundo parou com a chegada da COVID-19. Milhões de pessoas perderam seus entes queridos por causa dessa doença. Se não bastasse toda essa tragédia, assistimos espantados o surgimento de narrativas que questionavam as fontes científicas, seja por negação da doença, fomento ao movimento antivacina ou até mesmo incitação a tratamentos comprovadamente sem eficácia. Esses seguimentos foram disseminados e defendidos através de fake news que, ironicamente, por vezes foram patrocinados por quem deveria nos proteger. Nesse triste contexto, observamos como a chamada deep web, que em tradução literal seria uma espécie de “internet profunda”, mas que na verdade abarca um espaço em que é possível se esconder e promover crimes de uma forma que dificulte a sua detecção, foi um grande espaço para proliferar e organizar ofensivas anticiência.
Além dessa atuação no submundo da internet, vimos em diversas redes sociais pessoas públicas estimulando medidas, ações e até remédios, como no caso da cloroquina, que iam completamente de encontro ao que a comunidade científica estava indicando para atuar contra o corona vírus. Nesse cenário, podemos perceber o quanto a manipulação da verdade pode ser diretamente responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo, sobretudo na situação extrema em que nos encontramos nessa crise ocasionada por um vírus letal em escala global. E agora, você se convenceu do mal que uma mentira propagada nas redes pode causar?
Em 2022, o Brasil vive um momento delicado, pois se trata de um ano eleitoral, em que o futuro do país está sendo mais uma vez decidido. Assim, temos uma importante missão que vai muito além de escolher os nossos representantes, pois é vital que consigamos dar passos que indiquem que não queremos ser manipulados pelas fábricas de mentiras que intencionalmente buscam nos induzir a erros que podem tomar dimensões catastróficas. Há um embate acontecendo agora, neste exato momento em que você lê esse texto, nas mais variadas camadas do mundo virtual e que você é o participante ativo, ainda que não tenha plena consciência disso. Deixe-me explicar melhor.
Quando recebemos aquela mensagem sobre político A ou B, que à primeira vista parece absurda de tão ruim, e imediatamente clicamos para compartilhar, sem ao menos checar nada, e em alguns casos fazendo pior, aproveitando para “botar mais lenha na fogueira”, aumentando só um pouquinho mais a estória, estamos sendo vítimas e ao mesmo tempo cúmplices da nefasta máquina de fake news. Neste momento, te peço uma reflexão: como é possível que nós possamos condenar um instrumento que comprovadamente prejudicou, atrapalhou a até matou inúmeras pessoas ao longo da história, se ao mesmo tempo nos tornamos operários voluntários dessa mesma perigosa ferramenta? Estaríamos assim fadados ao ciclo sem fim de sermos “vítimas algozes”? Não!
É justamente na busca desse dilema que devemos ser um combatente de primeiro escalão dessas mentiras. O primeiro passo é questionar de onde vêm essas informações, e se elas não são minimamente duvidosas. O segundo passo é verificar. Hoje, felizmente já existem inúmeros instrumentos disponíveis para essa investigação. Por fim, é importante que denunciemos todo e qualquer exemplar de notícia falsa. E essa denúncia pode vir de várias maneiras, seja através dos aparatos oferecidos pelas próprias redes sociais, seja através de órgãos públicos de fiscalização. Essas denúncias, entretanto, devem ser combinadas com ações que à primeira vista parecem ser muito mais simples, como um bom papo com aquela pessoa da família, ou com os amigos e colegas de escola que não param de te enviar fake news. Entendemos que muita gente faz isso de maneira proposital e maldosa, mas tantas outras somente veiculam aquilo que imaginam ser verdadeiro. Para essas pessoas, a nossa atenção, paciência, e até mesmo afeto, têm de ser redobrado.
Para te ajudar nessa tarefa importante e complexa, ao fim desse texto constará uma lista de sites dos mais variados grupos. Eles têm como objeto central a verificação de toda e qualquer notícia. É essencial que participemos desse embate o quanto antes, pois no momento delicado em que o Brasil e o mundo vivem, toda e qualquer ajuda em direção à verdade é de grande relevância. Não podemos presenciar passivamente, ou como marionetes, um teatro orquestrado pela inverdade controlado pela máquina das fake news sobre nossas vidas. Como bem disse Desmond Tutu, incansável ativista da causa negra e LGBTQIA+ e ganhador do prêmio Nobel da Paz, “Se ficarmos neutros perante uma injustiça, escolhemos o lado do opressor”.
LISTA DE SITES PARA VERIFICAÇÃO DE FAKE NEWS:
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/painel-de-checagem-de-fake-news/onde-checar/
G1
https://g1.globo.com/fato-ou-fake/
AOS FATOS
BOATOS.ORG
UOL
https://noticias.uol.com.br/confere/
ESTADÃO
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/
REFERÊNCIAS
DE BARCELOS, Thainá do Nascimento et al. Análise de fake news veiculadas durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 45, p. e65, 2021.
DOURADO, Tatiana Maria Silva Galvão. Fake News na eleição presidencial de 2018 no Brasil. 2020.
NEUMAM, Camila .https://www.cnnbrasil.com.br/saude/hidroxicloroquina-esta-ligada-ao-aumento-de-mortes-por-covid-19-mostra-estudo/. Consultado em: 24 de outubro de 2022.
ANDRADE, Genifer.https://placamae.org/publicacao/fake-news-origem-e-conceito/. Consultado em: 24 de outubro de 2022.
TORTAMANO, Caio. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/george-stinney-o-menino-de-14-anos-que-foi-morto-na-cadeira-eletrica-por-ser-negro.phtml. Consultado em: 24 de outubro de 2022.
MULLER, Victor. https://gay.blog.br/noticias/se-voce-fica-neutro-em-situacoes-de-injustica-voce-escolhe-o-lado-do-opressor-desmond-tutu/ . Consultado em: 24 de outubro de 2022.
[1] Imagens retiradas em:
https://aapbb.org.br/cassi-lanca-secao-fato-ou-fake/fato-ou-fake/
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